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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Ações, motivações e agentes morais

Gravura de Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
Em várias discussões morais em que tenho me engajado tem surgido, implícita ou explicitamente, a seguinte forma de argumento:

A pessoa a quer fazer X para atingir o objetivo O.
O é moralmente errado.
Logo, fazer X é moralmente errado.

Creio que essa é uma forma falaciosa de argumento. Assim como objetivos moralmente corretos não são suficientes para justificar como moralmente correta uma ação realizada para atingi-lo ("Os fins não justificam os meios"), objetivos moralmente errados não são suficientes para justificar como moralmente errada uma ação realizada para atingi-lo. Fins e meios devem ser julgados separadamente.

Se, por exemplo,  descobríssemos que a escravidão foi abolida no Brasil para se atingir uma finalidade moralmente errada, isso não tornaria a abolição da escravidão uma ação moralmente errada. Outro exemplo: mesmo que boa parte dos homens machistas (não, isso não é uma redundância) defenda a liberação sexual das mulheres porque assim eles têm mais chance de transarem com mais mulheres sem deixarem de ser machistas, disso não se segue que a liberação sexual das mulheres é moralmente incorreta. Um terceiro exemplo: suponhamos que Schindler tenha salvo da morte todos aqueles judeus com o único objetivo de obter mão de obra barata para sua fábrica. Ainda assim salvar aqueles judeus seria uma ação moralmente correta.

É claro que o objetivo de uma pessoa boa, de um agente moral bom, é perseguir fins moralmente corretos por meios moralmente corretos. Portanto, para julgar se uma pessoa (ou um grupo de pessoas) é moralmente boa ou correta, é necessário saber sobre a motivação das suas ações, os fins que ela deseja realizar.

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